Leonardo Boff alerta para a importância cada vez maior da água no planeta
Existem 1 bilhão e 360 milhões de quilômetros cúbicos de água no planeta. Há superabundância, só que extremamente mal distribuída: 60% se encontram em nove países, enquanto outras 80 nações enfrentam escassez. Pouco menos de um bilhão de pessoas consomem 86% da água existente, enquanto 1 bilhão sofrem de carência de água. Há estimativas de que nos anos de 2030, 85% das pessoas estarão nessa situação.
Com esses números, o professor Leonardo Boff – teólogo, filósofo, escritor, e membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra – trouxe reflexões à mesa-redonda “A água como um bem comum”, realizada na tarde de sexta-feira (8) dentro da programação do 10º Encontro Técnico da CASAN. A principal delas: é urgente que a humanidade dê um salto de consciência, assuma responsabilidade e tenha mais cuidado e mais respeito com nossa casa comum, a Terra.
O teólogo elencou três pontos da chamada “ética da água”. Para ele, tudo depende da relação que os seres humanos têm com a água e a natureza. Hoje, uma relação altamente destrutiva. “O ser humano está atacando a Terra de todas as maneiras. Nós temos que desenvolver uma ética da responsabilidade coletiva, para manter a casa comum na sua vitalidade”, argumentou.
Em seu entendimento, a humanidade tem hoje consciência clara de que era falsa uma premissa de toda a modernidade – a de que a terra teria recursos ilimitados. “A ética que devemos desenvolver contra essa superexploração é a ética do respeito. É preciso respeitar os limites da Terra”, defendeu. A terceira dimensão da ética da água é o risco do colapso de nossa civilização. “É um risco muito próximo. Por isso temos que ter a ética do cuidado, uma relação amorosa, generosa e respeitosa com o planeta”.
“A água é fonte de vida ou é fonte de lucro? É um bem natural, vital, comum e insubstituível. É também um bem econômico, mas não pode ser tratado como uma commodity que é levada ao mercado. Não pode ser mercadoria. O negócio da água hoje envolve cerca de US$ 100 bilhões anuais”, alertou
Boff também coloca que a água pode ser a catalisadora de um pacto social mundial. A pandemia teria mostrado a urgência desse pacto, porque as soberanias nacionais ficaram obsoletas. Muitos estudiosos, em especial o cientista político e economista italiano Riccardo Petrella, propõem esse pacto, baseado na água.
“Nenhuma questão hoje é mais importante do que a questão da água doce. É mais importante que o próprio aquecimento global, porque dela depende a sobrevivência de toda vida, inclusive da nossa. Ela pode ser motivo de guerras como também de solidariedade social e cooperação entre os povos“, concluiu.
Para a coordenadora do Comitê Facilitador da Sociedade Catarinense para Rio+20, Thaianna Elpídio Cardoso, a humanidade não vai se tornar sustentável apenas pela racionalidade, nem apenas pelo sentimento. “O ser humano aprendeu que cuidando de um bebê ao nascer ele teria um futuro, cuidando de uma semente ao plantar, ela cresceria. O ser humano aprendeu cuidando, e que o seu futuro existe por conta deste cuidado. O bem comum só existe com o cuidado comum”, disse Thaianna.
Alguns avanços e instrumentos são importantes. O engenheiro ambiental Lucas Marques Pessoa, do podcast H2O, lembrou que, apesar de muitos retrocessos do ponto de vista de legislação e do poder Executivo, tivemos um avanço recente: uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), já votada pelo Senado, que acrescenta o direito à água potável à Constituição Federal. Também é uma maneira de combater a deterioração de nossos mananciais. “Quando a gente discute mecanismos para evitar a tragédia, os comitês de bacia estão aí como ferramenta interessantíssima, com grande poder nesse sentido”, defendeu.
Fechamento com premiação
O 10º Encontro Técnico encerrou-se com a divulgação dos premiados no Concurso CASAN de Inovação. Rafael Luiz Prim, Felipe Gustavo Trennepohl, Pery Fornari Filho e Pedro Joel Horstmann (SRM/GOPS/SOMAG) ficaram em primeiro lugar com a implantação da tecnologia de ultrafiltração na CASAN, em conjunto com a automação total de unidades de tratamento de água.
Em segundo lugar, houve empate entre duas iniciativas: implantação de automação em dez estações de tratamento de água na CASAN, de Bruno Kossatz e Roberto Oenning (GPO/DIPOA/DIPOE); e o aplicativo APP Sheet, de Gabriel Tortato e Leandro Vicente Nicolau (SOMAG/GOPS/RSM).
O terceiro premiado foi o controle P.I.D. com variável remota, de Egídio Antônio Cancelier Fachin, Mário Henrique Romagna Cesza e Rogers Romancini Feltrin (SRS/GOPS).
O concurso, que tem como objetivo incentivar e valorizar as inovações desenvolvidas pelos colaboradores da CASAN, recebeu 13 inscrições, que totalizaram 40 participantes.
“Depois de uma semana intensão de discussões, aprendizados e compartilhamento de conhecimentos, encerramos o Encontro Técnico da CASAN da forma que gostamos, entregando o Sistema de Esgotamento Sanitário para Concórdia”, disse a presidente Roberta Maas dos Anjos da Região Oeste, onde liderou a inauguração de mais uma infraestrutura de saneamento para a população catarinense.